domingo, 23 de dezembro de 2012

A força que ergue e destrói coisas belas...



Demoliram o meu canil. O nosso canil! O canil de todos nós. O teto de estrela cedeu lugar final e definitivamente para as estrelas do céu... A força da grana que ergue e destrói coisas belas destruiu mais uma vez. O fascismo mostrou seu braço forte. 

Mas o que nem o rodas e nenhum outro fascista entende é que um espaço de concreto, concretamente, não representa quase nada. O que os fascistas não enxergam, porque estão posicionados altos demais na sua arrogância, é que o que fez o canil existir por seis anos é justamente a força que eles não vão conseguir tirar de nós. E essa força, querendo eles ou não, já nos fez construir muitos e muitos canis por aí a fora. Fora dos muros da universidade, que eles inutilmente tentam erguer cada dia mais alto pra isolar o mundo de fora do mundo de dentro. 

Porque o mundo de dentro é o que de fato importa, e não se resume aos muros da universidade. De nenhuma universidade. Algumas figuras de dentro da usp, tanto professores quanto alunos, insistem em nos lembrar da responsabilidade de estudar em uma universidade pública. Pública, e não gratuita, como muitos bradam por aí. Se estudamos toda a graduação - e a pós - às custas da sociedade, temos que devolver à sociedade, ainda que em outra moeda. 

Esquecendo do detalhe de que os alunos saem da universidade contaminados por ela, os fascistas menosprezam mais uma vez o poder da mobilização. E isso será sua morte.

A cada momento que um filho da usp faz um exercício de teatro do oprimido com um aluno, vai à Amazônia gravar um documentário, se engaja na luta dos sem-teto, faz teatro de rua, enfim, cada vez que um filho da usp, fora de seus muros, tira a ferrugem da mente e do coração de si e das pessoas, o fascismo de rodas (e de sueli, e de tantos outros que fizeram da usp a ilha que é hoje) morre um pouco mais. Porque o mundo é muito mais do que a usp. E o canil, e tudo o que ele representa, pode estar em qualquer lugar... Já foi até Belém e voltou, já deitou, rolou e rodopiou, e vai continuar acontecendo e existindo onde quer que cantemos: 

Não canto onde não seja a boca livre,
Onde não haja ouvidos limpos e almas
afeitas a escutar sem preconceito.
Para enganar o tempo - ou distrair
criaturas já de si tão mal atentas,
não canto... Canto apenas quando dança,
nos olhos dos que me ouvem, a esperança.

(Trecho de A profissão de Poeta, de Geir Campos)